sábado, 26 de fevereiro de 2011

ALICE



ALICE

CAPITULO I

“Você consegue, você consegue...”
Era a única coisa coerente que se passava pela minha cabeça enquanto eu embarcava naquele vôo,com destino certo o mais longe de São Paulo que poderia naquele momento.
Eu sei que os problemas nos acompanham, mas o cenário não, e isso já me era suficiente no momento.
Meu nome é Alice, tenho vinte e três anos e morava em São Paulo quando tudo aconteceu.
Quando tinha 17 anos conheci Mauro,minha paixão.aos dezoito anos decidi morar com Mauro,não pensávamos em casamento,mentalmente éramos muitos parecidos,ser “namoridos” estava bom pra nós,mas acima de tudo éramos loucos um pelo outro.
Tínhamos um casal de amigos: Renato e Carolina,Carol estudava  engenharia comigo na USP,ela é uma amiga de todas as horas e nos últimos tempos,mais que ombro amigo.Carol é uma pessoa extremante extrovertida,contagiante  e muito linda,atrai a atenção por onde passa,com seus 1,75 de altura,cabelos loiros,lisos que se estendia por toda a sua costa,com olhos de esmeralda e um sorriso cativante,já Renato era um verdadeiro Will Smith,um negro lindo e atraente,porém muito reservado.
Mauro ultimamente andava com novos amigos depois de sua promoção.ele é um excelente fotógrafo mais foi promovido a chefe de redação.apesar de trabalhar como fotografo,ele era formado em jornalismo.
Ah,como era lindo o Mauro,moreno claro,1,80 de altura,corpo de atleta,olhos verdes,era um verdadeiro “deus grego” de tão bonito.nos encaixávamos muito bem,apesar de eu ter apenas 1,60 de altura.as vezes me perdia em pensamentos eróticos ao olhar para o meu monumento de desejo.em um belo dia,vi Mauro com um cigarro preto,diferente,fiquei preocupada com aquela cena,ta certo,ele era fumante,mas de cigarros comuns.ao interpelá-lo sobre o assunto,disse que era um cigarro como qualquer outro,que não precisava de tanto assombro,que eu estava sendo idiota por fazer tal cena.
No dia seguinte falei com Carol,ela achou estranho Mauro ter uma reação daquela,logo comigo,que era sempre tão carinhoso,”que chegava a ser muito pegajoso”,Carol sempre dizia.
Dias se passaram,não voltei a tocar no assunto,porem,aconteceu algo muito  pior,Mauro saiu para o trabalho e não voltou para casa,fiquei louca,ele nunca havia dormido fora antes,a cada minuto passava por minha cabeça as piores atrocidades,ligava para o se u celular e só dava fora de área.pela manhã fui a uma delegacia e fiz um B.O(BOLETIM DE OCORRENCIA) por desaparecimento e voltei para casa.lá já estava Renato,tão preocupado quanto eu,Carol tinha ido pra universidade,tinha apresentação de um trabalho e eu não podia deixar que ela se prejudicasse com tudo que estava acontecendo.Renato era muito calado, mas naquele momento,tentava me acalmar,por fim,Carol chegou no fim da tarde e me consolava.Os policiais foram me fazer algumas perguntas,mas logo foram embora.Carol e Renato em casa comigo nesse dia,não queriam me deixar sozinha.isso era sexta-feira,Mauro tinha desaparecido numa quinta.No sábado,a policia voltou a entrar em contato comigo e me informou que o cartão de credito dele foi usado numa loja no Rio de Janeiro,ótimo,pensei,então já havia uma pista de onde ele supostamente estaria e logo decidi ir pro Rio,mas ao chegar no aeroporto,não havia passagem nas próximas 6hrs,eram 11 hrs da noite,resolvi comprar as passagens,logo Carol ia comigo,não queria me deixar sozinha nem por um minuto.decidimos voltar e esperar em casa a hora do vôo,por sorte,meu apartamento ficava perto do aeroporto,quando cheguei em casa,dormi,pois estava no meu limite,passei da hora e acordei as 7hrs do domingo,fiquei nervosa por saber que nosso vôo tinha partido as 5hrs da manhã sem agente,quase enlouqueci a Carol pôr não ter me acordado,em fim,fui me arrumar,e quando sai pela porta do quarto,fiquei chocada ao ver Mauro lindo a me sorrir,será que estou louca,que já vejo ate miragem,pensei,tamanho meu espanto.
-Ah,Mauro!!-suspirei aliviada.
Mauro,é você mesmo,meu amor?
-Sim,sou eu Alice.-disse sorrindo despreocupadamente.
-Mas...o que...o que aconteceu,onde você estava,o que te fizeram?-perguntei,tropeçando nas palavras.
-Estava viajando pro Rio de Janeiro com alguns amigos!
-Mas você não me disse nada,não me avisou,não atendeu aos meus telefonemas!
-Alice,não tenho nenhuma obrigação de lhe dizer onde ando e o que faço!
As palavras não faziam sentido algum pra mim,ele dizia coisas absurdas,foi tão gentil com seu sorriso e tão bruto ao falar,que me deixou por um breve momento em estado de choque.Fiquei fitando-o com um olhar de surpresa,não mais de preocupação,as palavras por um breve momento sumiram.
Mauro entrou no quarto,tomou banho e deitou-se como se nada tivesse acontecido.sem saber o que fazer ou dizer,fui ate a sala igual um zumbi e com vergonha de mim mesma ao olhar Carol tão chocada quanto eu,sem entender o que fora tudo aquilo,ela não me perguntou nada,apenas saiu,sabia que eu precisava ficar sozinha,continuei paralisada,fiquei no sofá durante horas ate ele acordar para termos a conversa.em fim ele acordou,foi almoçar,continuei na sala  pensando o que falaria pra ele,lógico que somos namorados,ou melhor,namoridos,então porque ele disse que não deveria me explicar toda aquela loucura?as perguntas fervilhavam na minha cabeça.
Derrepente,me levantei,fui ate ele e como uma louca despejei tudo o que pensava,que ele me deixou preocupada com o que poderia ter acontecido,não foi justo ele ta se divertindo,e e eu pondo o mundo atrás de noticia,que não éramos casados mas se éramos namorados e morávamos juntos ele tinha sim que me dizer que ele sairia e não voltaria nos próximos dias.
-Mauro,eu fiz um B.O. você não tem idéia de como me deixou, e você com a maior cara- de- pau diz que não me deve explicação?!-falava tentando conter o nó que começava a se formara em minha garganta.-Acha que não tenho direitos de saber o que andas fazendo,eu te amar não significa nada pra você?você quis morar comigo r diz isso,você vale menos do que eu pudesse  se quer imaginar!Mauro,pelo amor de Deus,o que você fez,me diz!-disse já sem conter as lagrimas.
-Alice,você é o amor da minha vida.
_Nossa,você tem um jeito estranho de amar!-conclui em meio a dor.
Eu o fitei com cautela e vi em seus braços varias picadas de agulhas,seu olhar seguiu o meu e disse:-Será que você entende isso?
Continuei a olhar sem entender realmente o que ele estava dizendo.Mauro,olhou para o céu,como que quem pede forças para Deus,passou as mãos nos cabelos e começou:
-Alice...já faz....já faz algum tempo que me viciei em drogas,você não concorda nem que eu fume um cigarro comum e sei que não deixaria usar aqui,me perdoa se te deixei aflita,mas isso é mais forte que tudo que eu pudesse desejar,e o desejo por isso ficou incontrolável,mas o pior de tudo...é que descobri que estou com Aids,por isso que fugi de você,você não precisa de mim com uma praga dessas.quando eu entrei aqui e te vi,olhei você como se tivesse vendo um anjo,eu queria pegar minhas coisas e iro mais longe que pudesse sem lhe revelar a verdade.Alice,em uma das vezes que eu usava a maldita droga,compartilhei a mesma seringa,foi apenas uma vez,mas foi o suficiente pra me contaminar.já faz um ano que isso aconteceu,mas só agora que descobri.Você lembra  que nunca quis fazer os exames de rotina do meu trabalho?
-Lembro Mauro,você sempre me disse que era uma bobagem.-falei mecanicamente.
-Pois é,terça-feira fui fazer o bendito do exame,graças a Deus que eu fui fazê-lo,ficou pronto na quarta todos os meus exames,trouxe para casa mas só na quinta pela manhã eu os abri,e...quando vi o resultado do exame de sangue...ai Alice quase enfartei,desejei morrer naquele momento,não sabia o que fazer.Somente com a roupa do corpo resolvi ir pro Rio e ver meu colega com quem compartilhei a seringa e quando cheguei,qual grande foi minha surpresa ao saber  que Breno tinha morrido a 5 meses.Eu fiquei louco,me droguei como nunca e depois percebi,quando acordei que você podia ter contraído essa desgraça de Aids,mesmo nos sempre usando camisinha por imposição sua,talvez você pudesse ter contraído,essa possibilidade me fez ter forças para parar de usar aquilo e então ,fui em uma loja,comprei roupas novas,pois as minhas estavam horríveis,e tava criando coragem pra voltar para casa,é isso!-concluiu Mauro,afundando as mãos no rosto e curvando as costas.eu olhava Mauro,e estado de choque com aquela revelação,com ódio dele,pena,medo,eu não tinha organizado meus pensamentos com todo aquele turbilhão de informações.
-Alice,Alice,diz alguma coisa!Me soque,mas não fique desse jeito,meu amor,me perdoe,você não merece tudo isso,se eu pudesse voltar ao passado jamais tinha compartilhado a droga da seringa,meu amor!-ele falava e me sacudia levemente,sua voz era distante como se tivéssemos em dimensões diferentes.-Alice,pelo o amor de Deus,diz algo,você ta entendendo o que eu estou dizendo?responde por favor!-Mauro dizia com lagrimas nos olhos.        
Em fim,eu estava olhando Mauro desesperado na minha frente e disse:-Hoje é domingo,os laboratórios não funcionam.-me levantei e fui ate a janela.
Mauro me olhou surpreso com a resposta a seus apelos.ele veio ate mim e eu disse:-Acho que seja um poço remota essa possibilidade de eu esta infectada,pois tenho tanto medo de ser mãe que nunca cogitei a idéia de deixar de usar camisinha,mas amanha faço esse exame.-me virei para encará-lo devagar e perguntei:-Como você esta Mauro?Qual é sua real situação?-assumi uma posição diante do fato que nem eu mesma achei ser capaz.
-Mesmo com todos os tratamentos que existem hoje,é impossível que eu escape do inevitável,da morte.No Rio,antes de me drogar feito um louco,fui a um infectologista e expliquei minha situação,de minha fragilidade com remédios e mostrei meus exames e o medico foi claro:a Aids pra mim,é o fim.Pois os remédios me dariam a chance de uma vida quase normal,mas como eu era altamente alérgico com relação aos remédios,a morte seria inevitável,que eu tenho no Maximo 1 ano.Alice,você...você pode ir embora se quiser,ou eu posso ir,você não precisa me perdoar,você não tem culpa.
Foi a ultima coisa que Mauro me disse,então sai,ao pisar na calçada,senti o vento frio varrendo as folhas e jogando meu cabelo de encontro ao meu rosto,só ai me dei conta que não estava usando nenhum casaco,porem prossegui,fui ate uma clinica e a atendente disse que era possível realizar um teste mesmo no domingo,tendo em vista a ocasião.foi muito rápido e ficou confirmado minhas suspeitas:eu não havia contraído a doença,e depois de vagar sem destino pelas ruas do bairro,percebi que já era noite.meu celular tinha varias chamadas não atendidas,eram de Carol,Renato e a grande maioria de Mauro.Voltei pra casa e sem dizer nada,joguei meu exame nas mãos de Mauro e fui tomar banho,já no banheiro,tive uma crise de choro ao me dar conta da realidade:Mauro ia morrer,e tentei me recompor,sai do banheiro falando muitos palavrões,Mauro ficou muito assustado com meu estado e eu dizia muitos impropérios:maldita droga,maldita droga,repetia sem parar,então o abracei como se quisesse com um abraço apagar tudo,mas a realidade era pura e complicada.Sem medo do que poderia acontecer,quis como nunca fazer amor com ele,com medo apenas do futuro,eu sabia acima de tudo que num futuro próximo ele não estaria mais comigo,e isso me deu forças para querê-lo mais que tudo naquele momento.
-Alice,pare,por favor,você ta ficando louca,não podemos fazer isso,é loucura,pare!-dizia Mauro com desespero.
Eu não dei ouvidos pra ele e tirei a toalha do corpo e me joguei de corpo e alma nos braços dele,dizendo que não me importava,queria morrer com ele,mas a camisinha iria me deter,em fim ele entendeu meu recado e fizemos amor com tanta paixão que tudo o que  pensei era que só era possível amar aquele idiota,que trocou a vida linda e promissora por uma maldita droga,que havia mudado nossas vidas para sempre de uma forma irrevogável.

Continua...